“O universal é o local sem paredes.” (Miguel Torga) "Escrever é um ato de liberdade." (Antônio Callado) "Embora nem todo filho da puta seja censor,todo censor é filho da puta." (Julio Saraiva)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O POEMA



o poema descansa num cômodo
desta casa inabitável
foge das palavras frias & gastas
que sem pedir licença insistem
em lhe quebrar o santo sono

o poema pede sossego apenas
não devemos perturbá-lo com
metáforas & rimas muito menos
casos de amor mal resolvidos
luas de noites passadas em claro
estrelas dos versos de bilac
disto tudo o poema quer distância

o poema deseja que nos afastemos
levando conosco as vozes declamadoras
o poema deseja apenas o desprezo
dos cemitérios abandonados
das mulheres que perderam a beleza
nas lágrimas choradas pelos maridos
que disseram volto já
mas nunca mais voltaram

o poema quer ficar longe do poeta
não adianta insistir não adianta
o poema nada tem a dizer ou declarar
amanhã talvez mude de ideia
por enquanto pede apenas que o deixemos
quieto & intocável
em sua absoluta & total solidão de poema


12-02-13


_________________
Júlio Saraiva
_________________

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Compartilhe o Currupião